quinta-feira, 29 de julho de 2010

Balada na China


Balada na China

Dilliki Dolliki Dinah,
Linda princesa menina,
Formosa como as manhãs,
Do mês de maio na China,

Certo dia – Que tristeza!
Em mistério foi roubada.
E ao autor de tal proeza,
Que a levou sem dizer nada,

Foi o grande feiticeiro
Hy Kokolorum, matreiro,
Com sua pantera malhada,
Se arrastando sorrateiro.

Aquilo através da China,
Tal aflição motivou,
Que só se ouvia falar:
-“Onde estará a menina?”
-“Que malvado a carregou?”

Por outro lado, os barões
Partiram a procurá-la.
A honra de seus brasões
Não poderia ficar
Manchada por tais ladrões.

-“Deve ser ele, por certo,
Hy Kokolorum , o esperto,”
Desesperados diziam
Ling – o leal; Bing – o modesto;
Kong – o bravo;  Bong – o lesto;
Quando em busca da princesa,
Os quatro barões partiam.

Pobre Dilliki Dolliki Dinah,
Linda princesa menina,
Formosa como as manhãs,
Do mês de maio na China!

Lá no castelo assombrado.
Onde mora o feiticeiro,
A bela Dilliki Dolliki Dinah,
Chorava, em desespero,
Seu destino junto à fera,
Que vendo a pobre chorar,
Mostrou ser boa pantera,
Dizendo, muito mansinha:

-“Se um beijo agora me deres,
Transformo-te, princesinha,
Na mais feliz das mulheres.”
A Dinah, meiga e bondosa,
O beijo não recusou,
E a pantera, caridosa,
Logo em Rei se transformou.

Seu encanto foi quebrado,
E o feiticeiro, assim,
Por ser tão feio e malvado,
Teve então um triste fim.

Os barões foram chamados,
Para ouvir o belo rei:
“Tive a honra de encontrá-la
Do feiticeiro a salvei.”

-“Querida Dilliki Dolliki Dinah,
Para fazer-te feliz, nosso rei aqui está.”
E os barões, assim falando,
Num alegre cumprimento,
Foram levar a notícia
De tal acontecimento.

Helena Pinto Vieira
Livro O Mundo da Criança

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Historinha  que muito ouvimos, eu e meus irmãos, quando crianças... delícia de momentos que apesar de não voltarem, sempre estarão! 

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Almas Perfumadas

Almas Perfumadas


"Tem gente que tem cheiro de passarinho quando canta. De sol quando acorda. De flor quando ri. Ao lado delas, a gente se sente no balanço de uma rede que dança gostoso numa tarde grande, sem relógio e sem agenda. Ao lado delas, a gente se sente comendo pipoca na praça. Lambuzando o queixo de sorvete. Melando os dedos com algodão doce da cor mais doce que tem pra escolher. O tempo é outro. E a vida fica com a cara que ela tem de verdade, mas que a gente desaprende de ver.

Tem gente que tem cheiro de colo de Deus. De banho de mar quando a água é quente e o céu é azul. Ao lado delas, a gente sabe que os anjos existem e que alguns são invisíveis. Ao lado delas, a gente se sente chegando em casa e trocando o salto pelo chinelo. Sonhando a maior tolice do mundo com o gozo de quem não liga pra isso. Ao lado delas,pode ser abril, mas parece manhã de Natal do tempo em que a gente acordava e encontrava o presente do Papai Noel.

Tem gente que tem cheiro das estrelas que Deus acendeu no céu e daquelas que conseguimos acender na Terra. Ao lado delas, a gente não acha que o amor é possível, a gente tem certeza. Ao lado delas, a gente se sente visitando um lugar feito de alegria. Recebendo um buquê de carinhos. Abraçando um filhote de urso panda. Tocando com os olhos os olhos da paz. Ao lado delas, saboreamos a delícia do toque suave que sua presença sopra no nosso coração.

Tem gente que tem cheiro de cafuné sem pressa. Do brinquedo que a gente não largava. Do acalanto que o silêncio canta. De passeio no jardim. Ao lado delas, a gente percebe que a sensualidade é um perfume que vem de dentro e que a atração que realmente nos move não passa só pelo corpo. Corre em outras veias. Pulsa em outro lugar. Ao lado delas, a gente lembra que no instante em que rimos Deus está dançando conosco de rostinho colado. E a gente ri grande que nem menino arteiro."



Ana Cláudia Saldanha Jácomo

sábado, 10 de julho de 2010

E agora José?

    José
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio
e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?


Carlos Drummond de Andrade

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Não quero lembrar



"Palavras são erros e os erros são seus
Não quero lembrar que eu erro também..."

Eu sei - Legião Urbana